Escrever, ler, ver o Mar - Cláudia Paiva Silva

Wednesday, January 09, 2019

Escrever, ler, ver o Mar

Começo pelo fim: na passagem de ano, uma das melhores que tive em muitos anos, com as pessoas de quem mais gosto (ou pelo menos as mais importantes num espetro não muito vasto de grandes mas essencialmente, verdadeiros amigos - daqueles que mesmo não falando meses, sabemos que estão lá para nós e que nós estaremos lá para eles), em casa, a ver o fogo de artifício a partir da televisão, resolvi para mim que o que eu mais desejava para 2019 seria sobreviver um dia de cada vez, porque, como já mencionei em publicações anteriores, os últimos 3 anos têm sido, tudo, menos pacíficos, e porque, por motivos de ordem pessoal/profissional, os próximos tempos também não se avizinham melhores. 
Agora o início e esperando não me repetir: desejei apenas "um dia de cada vez" porque no passado mês de Setembro, devido a uma situação por mim desencadeada, coloquei todo um crescimento e desenvolvimento profissionais em jogo, não só para quem em mim confiava, mas acima de tudo, para o EU que queria ir mais longe profissionalmente, que queria ser vista como uma geóloga competente, que queria ser uma mais valia na empresa onde estou a trabalhar, como noutras onde possa vir a ter algum cargo técnico. Posso estar a exagerar, claro, posso estar completamente errada e, a competência do meu trabalho nem sequer ter sido colocada em causa, mas sinto que ao ter falhado no básico, na confiança de pessoas que me são próximas, que sempre me apoiaram e deram a mão (muitas vezes me defendendo), estive mal, procedi de forma errada (não cheguei a pedir desculpa) e sinto uma culpa gigante. Ao mesmo tempo esta experiência mostrou-me finalmente que em empresas pequenas, as verdadeiras caras revelam-se quando as coisas não estão a correr bem; as máscaras caem quando menos se espera, e tudo se torna mais feio, mas também mais real. 
O Realismo leva-me então a não desejar nada, a não querer nada, a não ansiar por nada. Nada nos é colocado nas costas que não possamos aguentar no final do dia, embora eu me sinta sempre defraudada com as pessoas, por achar, ingenuamente, que posso confiar nelas também. 
Então não mais quero do que escrever enquanto me/nos é permitido, sem falsear acima de tudo o que eu penso. Quando, também em Setembro, deixei de ter perfil activo no Facebook - essa primeira rede social que usei desde o seu boom e que vim a observar servir para determinados fins pessoais, estabelecer determinados estilos e comportamentos, e claro, resultar em insultos a quem pensa diferente (e quando escrevo diferente, é mesmo diferente, do que eu possa pensar ou do que vocês podem pensar, e como tal, insulta-se, ponto!), fora servir também para estar atento ao que os colegas do trabalho escrevem ou partilham e poder usar isso como arma/desefa futuras -, pensei seriamente que pelo menos, no blog, nunca tive problemas em partilhar as minhas ideias ou opiniões. O blog é também um espaço publico-privado, mas o campo de observadores/ leitores, poderá ser mais reduzido e facilmente controlável. O que mais me assusta ou assustava no Facebook era a capacidade que todos tínhamos em chegar ao perfil privado de "amigos" e comentar ou contra-argumentar de forma quase irracional tanto quando impulsiva, o que cada um poderia escrever e, geralmente, pensar. Mais longe era mesmo comentar algo em páginas de pessoas ou instituições que não conhecíamos de todo, apenas e só pela liberdade de o podermos fazer. Mas sem dúvida que todos os limites de bom senso, fronteiras de liberdade de expressão se foram perdendo. No blog, o conceito de poder ser um quase diário, ajuda a manter o equilíbrio necessários para, "quem não gostar, não ler". 
Pressuposto 1: escrever mais em 2019 (no blog, do diário gráfico também, embora acabe sempre, agora, por ser mais fácil pegar no mundo digital)
Pressuposto 2: ler mais em 2019. Tudo o que me possa interessar, porque também me obriga a Pensar mais.
Pressuposto 3: ver o Mar. Desde que me lembre, o Mar faz parte de mim, de quem eu sou. Mesmo estando noutros países, sempre lhes vi o mar, ou o "toquei". Porque não há melhor calmante ou conselheiro. Porque na sua brandura ou tempestade, impõe-nos respeito, e necessariamente faz com que coloquemos tudo em perspectiva. 
Mas a verdade é esta, perante tudo o que já passei, pelo que me foi ensinado em chapadas sem mão, em conversas brutais, que com poucas palavras, me deram feridas para a vida, prefiro, finalmente, viver cada coisa à medida que ela apareça. Tendo o Mar como datum de referência, e o Norte como ponto cardeal. 

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