Influencer ou being Influenced? - Cláudia Paiva Silva

Monday, April 09, 2018

Influencer ou being Influenced?


É cada vez mais impensável hoje não vermos um mundo feito por e com base em redes sociais. A velocidade vertiginosa com que nos é bombardeada informação é cada vez mais rápida, e, sendo que nem sempre temos tempo para ler ao certo o que nos aparece pela frente, torna-se igualmente mais difícil fazer a filtragem necessária em separar o que é realmente útil do que é completamente irrelevante. Mais ainda, não nos bastava termos a vida exposta, sem querer ao início, agora porque quase se torna "obrigatório" mostrar o que vestimos, comemos, fazemos, lemos, e ainda termos de aprender os novos conceitos de blogger, youtuber, instagrammer, influencer
Quanto ao primeiro, há já mais duma década que existe. Uns duma forma mais ou menos publicitada, outros mais restritos ao espaço doméstico de familiares e amigos que liam alguns textos redigidos à laia de artigos de opinião, diários de vida, entre outros. Já os três últimos são claramente resultantes do efeito bola de neve que as redes sociais vieram trazer às nossas vidas. Um amigo faz um vídeo mais ou menos palerma, outra amiga mostra como se maquilha para diferentes ocasiões, outros tantos acabam por fazer vídeos de coaching (eu também não tenho bem a certeza do que é, mas acho que se trata de ensinar as pessoas a viver a vida de uma forma mais positiva e sustentável?) e lifestyle (estilo de vida mais optimista, geralmente sustentável, mas acima de tudo, que esteja na moda), que, agora sim, se aliam aos blogues e às páginas de Instagram que, outrora serviam como plataforma para os pioneiros do iPhone apresentarem bons trabalhos fotográficos. Não digo que com o boom dos/ das influencers isso não aconteça. Aliás, todo o conceito de influenciar alguém parte exactamente do pressuposto que as ideias, fotografias, estilo de vida, estão bem apresentados, sendo extremamente apelativos visualmente. E é aí que, para mim, o rótulo poderá mudar completamente. O que é realmente ser-se influencer? Contra mim falo. Tenho este canto há mais de 10 anos, tenho conta no IG há uns 4, e, "just for fun", iniciei com  o meu namorado, um segundo espaço, onde a ideia seria publicar fotos minhas (onde eu apareço), dele (onde ele aparece), dos locais onde vamos, do que fazemos, eventualmente do que eu visto, sabendo logo a priori que eu NÃO SOU NEM TENHO QUALQUER INTENÇÃO DE SER OU ESTAR A INFLUENCIAR ninguém. Simplesmente é mesmo pela piada. Porque além de ser (para mim/nós) apenas um hobby, claramente que nos dá algum prazer em conhecermos mais do nosso país - além do que já conhecíamos -, doutros países, espaços interessantes que podem ou não estar na moda, e com isso, poder também chamar a atenção de quem vê, ao que realmente interessa, fazendo e apresentando com isso o nosso ideal de fotografia (ambos temos páginas autónomas também, cada um com o seu registo fotográfico completamente distinto). Se por acaso eu colocar alguma fotografia online com um livro, revista, artigo, não é apenas para ficar bem esteticamente com a caneca de Mokambo, ou com as flores de plástico e computador do tempo do antigamente: é para que realmente o mesmo seja lido e se torne conhecido. Exemplo acima: na última edição da revista Vogue Portugal (que raramente ou quase nunca comprei porque nunca achei interessante os artigos), surgem apenas e só uns 4 textos (dos que vi entretanto) em que se fala, concretamente, no conceito de, tcharan, influencer. Mais uma vez, mas o que é isto? Não há muitos anos atrás, o influencer seria quem nos inspirava, a pessoa que tivesse deixado uma marca ou legado tão impactantes no mundo, que fossem dignos de terem igual impacto ou serem mais sugestivos nas nossas próprias vidas, fossem eles músicos, personalidades públicas, políticos, actores. Hoje em dia, e não querendo ofender absolutamente ninguém, será que poderemos considerar uma rapariga under-30 como influencer? E influenciadora de quê? Moda? Lifestyle? Experiências de vida? Como é que de repente o mundo virtual ficou pontilhado de estrelas em rápida ascensão cujo objectivo de vida é aparecerem em vários locais que estão na moda, partilharem 500 imagens de modelitos (que mais outras 500 irão comprar/copiar) catitas, e fazerem unboxings (isto é, abrirem os artigos que as marcas lhes começam a enviar apenas por uma questão de publicidade). O pior é saber que isto não lhes paga um ordenado, e até começaram a ganhar realmente alguma base financeira com a "brincadeira", é bem possível que gastem muito mais. 
No artigo acima da revista Vogue, a entrevistada foi uma das primeiras jovens a aparecer nos últimos 5 anos, com um blog e conta de IG. Foi uma das primeiras a ser apelidada de influencer, (um pouco como a Olivia Palermo, que também não sei o que faz na vida sem ser aparecer, simplesmente) faz parte da geração millenial (tal como eu, nascida em meados dos anos 80 e início dos 90, que, segundo consta, não tem tempo para nada, não se quer agarrar a nada, não tem paciência para nada, é tudo muito "depeche mode", e como tal, começam a vida muito mais tarde do que a geração acima de nós - que não dos nossos pais, mas possivelmente os nossos primos nascidos na década de 70, início de 80), e é a primeira a dizer que o conceito está um bocado overrated (ultrapassado), na medida que só serve mesmo para publicitar algo, ou, eventualmente, para te conseguir uma carreira a solo no mundo empresarial da moda, design, ou outros. Há quem tenha sorte, e há aquelas que já começam a sofrer a pressão dos mercados, abrido páginas de venda online de roupa para anunciarem a bancarrota poucos meses depois. Jovens esses e essas que gastaram fortunas a pensar que iria ter futuro, quando o futuro hoje já nem nos é garantido com o suposto "emprego estável" quanto mais com fogo fátuo que para muitas pessoas não passam de fait-divers, perdas de tempo. Volto a dizer que há casos e casos, há vontades e vontades, há hobbies. No meu caso especificamente é um hobby. Não tenho qualquer problema em assumir que gosto de me vestir bem, de me maquilhar, que tenho as minhas marcas preferidas. Contudo, e aí está o outro lado da moeda... até que ponto é que me posso deixar influenciar até deixar de ter a minha própria personalidade ou gosto pessoal? Será que ao copiarmos as peças de roupa que vemos, estamos a confluir para a perda de identidade pessoal (ou quase colectiva), ou simplesmente funciona da mesma forma como quando compramos uma revista de estilo? Outro dos artigos apresentados na edição, era referente à forma como o Pinterest tinha mudado o paradigma de design e decoração dos espaços - fossem casas particulares ou outros. E a verdade é que antigamente  quando se adquiriam produtos para uma casa (moveis, panos da loiça, talheres, camas, estantes, loiças, acessórios vários), era suposto serem para a vida. O enxoval. Aquela coisa muito antiga que as nossas avós e tias falavam. Hoje é tudo descartável. Ao ser mais barato, pode-se trocar mais facilmente, mas ao mesmo tempo, o ser mais barato implica que muitas vezes a qualidade seja bastante inferior, obrigando o consumidor em prazos cada vez mais curtos de tempo a trocar toda uma decoração que se pretenderia durar bem mais do que o previsto. Até que ponto somos influenciados em fazer essas mudanças? Será que o mundo está a ficar de tal ordem saturado de si mesmo que tenha perdido a noção de identidade, de gosto? Até que ponto podemos influenciar ou ser influenciados por outras pessoas? Mais ainda, até que ponto é que nós, todos, temos esse direito? 

6 comments:

Konigvs said...

As pessoas andam no mundo por ver os outros andar. É sempre mais fácil deixares-te ir que remar contra a maré. Dá muito mais trabalho. Já viste o trabalho que dá pensar pela própria cabeça? É muito mais fácil copiar o que os outros fazem e dizem e vestir o que os outros vestem e fazer tudo igual aos outros.

Agora, é verdade que todos somos influenciáveis (e a publicidade existe para alguma coisa) se bem que, uns, bem mais influenciáveis do que os outros! E como as pessoas são preguiçosas deixam-se levar pela escolha dos outros, pelo gosto dos outros ou, pelo gosto do algoritmo que lhe diz "vê este vídeo porque estão todos a ver"; "ouve esta música porque estão todos a ouvir a mesma música". "Tu não queres estar de fora da manada. Só quem pertence à manada é fixe. Ser diferente é ser estranho. Ninguém gosta de estranhos."

Parece que de repente as pessoas, mesmo as que têm idade para ter juízo, se comportam como adolescentes. Todos querem ser iguais aos outros, usar as mesmas marcas, fazer o que todos fazem, comprar e ter as mesmas coisas para se sentirem integrados, infelizes e deprimidos como todo o mundo!

Depois existem as ovelhas negras como eu, que nunca sabem do vídeo viral do momento; da nova indignação nas redes sociais; ou da última musiquinha latino-americana-xunga do momento!

Cláudia Paiva Silva said...

ehehehehe.... (cada vez deves achar mais que sou uma tonta de Cascais que por aqui anda...)

Konigvs said...

E tu a pensar que eu sou o verdadeiro homem das cavernas!
Uga buga uga buga!!

Cláudia Paiva Silva said...

De todo! Simplesmente és uma pessoa em condições. Ok, um bocado anti-sistema, mas também convém que haja malta assim, senão estávamos em maus lençóis. Bom, sê bem vindo aqui à carroça.. (era para se ter chamado caravana... por causa dos cães... mas funciona exactamente da mesma forma. Quem diria..)

Konigvs said...

Obrigado! Já não sei como vim aqui parar... certamente pesquisei alguma coisa, fiquei a ler e devo ter achado interessante as tuas opiniões e testemunhos e comentei bastante porque estava por casa com gripe! Ainda tenho de ver se encontro onde clicar para te seguir no Blogger porque dá jeito para saber que há novas entradas. E entretanto os cães ladram mas a carroça passa!

Cláudia Paiva Silva said...

Sou info excluída. Também não sei como isso se faz, mas sei que se escreveres o endereço do blog na barra lá de cima, o sistema "grava" (lol). E ainda bem que ficaste de gripe há 500 anos atrás, e que eu ontem lá dei conta de comentários pendentes.