Das chamadas futilidades nas redes sociais - Cláudia Paiva Silva

Monday, October 30, 2017

Das chamadas futilidades nas redes sociais

Embora já passem mesmo muitos anos desde que comecei a escrever online, primeiro no mundo Blogger, depois no Facebook (e neste, de uma forma mais frontal, bruta, muitíssimo mais pessoal, uma vez que estou a redigir textos de opinião para um “grupo restrito de perto de 300 pessoas”), a verdade é que aqui, publicamente, poucas foram as vezes em que consegui escrever exactamente o que queria, pôr o dedo na ferida, assumir publicamente alguma bandeira, mesmo que pudesse chocar os (cada vez menos) leitores.
Posso ter dado alguns toques na questão da homossexualidade, nos direitos das mulheres, no que este ou aquele partido, quando Governo, faz ou deixa de fazer. Mas é tudo muito ao de leve – primeiro porque os textos querem-se curtos para consumo rápido, depois porque cada vez há menos gente ainda com paciência (e tempo) para ler e apreender. E apreender sem precisar de julgar – porque todos somos comentadores de sofá, ou de computador, portanto todos temos direito a opiniões mais ou menos exacerbadas.
Isto tudo para quê? Porque nos últimos meses, enquanto algumas pessoas que se acham realmente importantes no seu mundinho, deixaram sequer de me falar (quando antes se diziam grandes amigas), outras tantas, bem mais interessantes, têm surgido como cogumelos (e sim, há os venenosos e não venenosos, mas às tantas conseguimos distingui-los bem). Podia estar aqui a descrever cada uma dessas pessoas (na sua grande maioria Mulheres, dentro da minha faixa etária), mas então prefiro deixar a lista para outra publicação.
Uma dessas pessoas interessantes dá pelo nome de Helena Magalhães, escritora (ou pseudoescritora como outras mulheres com m, a ela se referem), 31 anos (mais nova que eu 2, portanto), mas com uma capacidade, obviamente, de escrita, de elocução, de, lá está, ter os ditos no sítio para escrever sem temer ser mal ou bem interpretada, colocar os pontos dos i’s e estar-se a marimbar para o que os outros pensam. E isso é de louvar hoje em dia, em que a Mulher estar cada vez mais na mira de toda a gente – não tanto por homens, mas acima de tudo por elementos do género feminino.
Li hoje dois artigos dela (ou publicações no blog) que podiam ter sido escritos por mim – e irei escrever algo sobre isso, mas não daquela forma, porque quem me conhece sabe que sou muito radical nas minhas palavras – sobre a capacidade que nós, mulheres, temos em ser umas cabras. Porque a verdade é essa minhas caras (e caros), nós somos realmente más, não só para os homens (isso dá um texto lindo que me atirará para as chamas da inquisição neo-feminista) mas acima de tudo contra nós próprias, umas contra as outras, em definições e conceitos de malvadez e maledicência que só me trazem à ideia uma única justificação: inveja devido a vidas frustradas e objectivos inalcançados. Não justifica apenas sermos, desde que começamos a escola, a ser comparadas com as filhas das outras mães, filhas das colegas das mães, e mais tarde, com o nosso grau de aprendizagem (=inteligência), quando começamos a ler bem, a falar bem, a contar bem “ai que a minha filha/ neta já faz contas como se andasse no liceu”, às tantas, se temos melhores notas, se vamos ou não para Medicina ou Direito sermos doutoras “coitadinha, a Lena, perdeu o 12º ano, pudera, também com aquele exemplo de mãe que ela tem em casa – e o pai coitado, também não deve muito à inteligência” (embora até possam ambos ser engenheiros), e claro, às tantas, aquelas perguntas óbvias que se colocam como: já acabaste o curso? Já estás a trabalhar? Já tens namorado? Agora tens de assentar (= casar e ter filhos após curso feito e (qualquer) trabalho/emprego posto).
A pressão ao longo da nossa vida até aqui (casa dos 30’s) é enorme. Mas o futuro não é mais brilhante. Como tal, e visto que hoje em dia, em 2017, vivemos num mundo de aparências, resultante de uma educação determinada quase constantemente pelas referências de internet (que há 10 anos nem existiam desta forma), e nenhumas por pais e educadores (não me refiro a professores, porque esses não podem fazer o trabalho de quem nos deu à luz – e aqui entenda-se pai e mãe), não é de estranhar que haja cada vez mais uma proliferação de mulheres que querem ter tudo a mais, e serem mais do que a do lado. Não posso, nem podemos levar a mal. Tudo até agora tem sido feito nesse sentido. Uma constante pressão da sociedade, da família, aliada a centenas de páginas sociais e revistas supostamente feitas por e para Mulheres, que na verdade não ajudam à festa.
Da mesma forma, temos agora um flagelo a meu ver ainda mais perigoso, que é a radicalização do Feminismo. Peço desculpa, mas não é queimar soutiens enquanto fumamos charros que vamos conseguir seja o que for, da mesma forma que não será com pelos no sovaco ou depilação por fazer nas pernas – isso não é feminismo – isso é estupidez. Mesmo que venham evocar que os conceitos de beleza são uma imposição das sociedades ao longos das últimas décadas, eu digo que existe uma diferença GRANDE entre sermos Barbies, com corpos perfeitos, e sermos femininas e acima de tudo termos o mínimo de higiene pessoal. O que é que me traz de bom se eu me vestir como um homem ou ter comportamentos como um homem? O que me traz de bom eu andar a evocar aos 7 ventos que os homens devem começar a fazer a lida doméstica e nós é que temos direito a estar sentadas no sofá? Isso são estereótipos bacocos, mas sim, que infelizmente ainda acontecem – e tenho a sensação que vão recomeçar a acontecer ainda mais.
Existe uma expert do assunto a escrever TODOS OS DIAS no Expresso, chamada Paula Cosme Damião. A moça assusta-me. Não me parece que seja feminista, feminina, ou qualquer coisa a favor das mulheres, embora esteja sempre a tentar “defender-nos”. Assusta-me porque os textos delas, às tantas, roçam um ódio profundo aos homens, como se fossem a pior coisa à face da Terra, mas também a algumas mulheres, nomeadamente àquelas que procuram, dentro do seu feminismo, serem femininas. Uma das lutas das neo-feministas é exactamente isto: uma mulher feminista não anda de salto alto, mini saia, ou batom vermelho, porque está a sexualizar-se perante a sociedade e isso vai contra o que se pretende. Pois bem, na minha modesta opinião, a Mulher hoje em dia, além de poder e dever ter os mesmos direitos e oportunidades que um Homem, pode e deve fazê-lo sem se tornar masculina, sem ter de para isso, esconder a sua sexualidade ou sensualidade ou simplesmente, o facto de ser feminina. E é aí que passa também a cisão entre as Mulheres e o facto de dizermos mal umas das outras.
Para terminar, deixo-vos a parte da citação do juiz desembargador Neto de Moura, cujas palavras que se seguem não estarão completamente erradas no que toca ao conteúdo “O adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) (…)". I rest my case.


3 comments:

Goldfish said...

Epá, Clau, isto são temas muito complexos para se aviar assim, de uma vez! E sim, muitas nulheres são umas cabras umas para as outras e para os homens também, mas isso são questões de formação, não de feminismo ou de feminilidade. E, tal como não me parece que para ser feminista tenha de se perder feminilidade, tampouco acho que perce a razão quem não for feminina, coquete, ou o que se queira chamar. Ter pêlos (e, por mim, abençoada depilação a laser) não é falta de higiene ou os homens também tinham de andar todos lisinhos (eu odeio). Porque é que uma mulher, para defender os seus direitos e oportunidades 'pode e deve fazê-lo sem se tornar masculina'? Ela pode e deve defender-se conforme lhe apetecer, conforme for a sua inclinação! Uma mulher não perde o direito de ser feminista por fazê-lo de baton e salto alto, nem por fazê-lo de pêlo no sovaco, ou de ténis nos pés. Todas têm o direito de se manifestar, apesar de não deverem criticar nem diminuir as outras. Igualdade!

Agora, vamos a pessoas citadas. Helena? Paula? Não conheço, cada vez leio menos os jornais e blogues. Agora, o juiz desembargador (e não me esqueço das juízes/juízas que assinaram com ele) e a tua citação. Não, não julgo, não condeno especialmente e muito menos estigmatizo as adúlteras. Nem os adúlteros (para mim, este é o maio erro do sr, não se distinguem as adúlteras dos adúlteros, problema igual, resolução igual, condenação igual num estado de direito laico). 'Mulheres honestas'? O que é isso? Não me digam que ser honesto é o contrário de ser adúltero!

Cláudia Paiva Silva said...

Olá olá! Não retiro nada de valor e de razão ao que escreveste - e com isto agora reparo que falhei no essencial que queria igualmente expor: é que hoje em dia, embora realmente te possas manifestar como quiseres, não podes nem deves é obrigar os outros ou as outras (no caso) a serem como tu és e a pensarem como tu pensas. A verdade é que nesta coisa das mulheres que detestam outras mulheres, passa muito pela inveja, sem dúvida, mas acima de tudo pelo "eu é que faço bem e vocês fazem todas mal" - contra mim falo, tenho as minhas manias e acho que poderão ser melhores que as dos outros, mas não são. Agora se tentares (como eu já fiz) dar ou manifestar a tua opinião, de forma moderada e não aceitarem que para defenderes os interesses das Mulheres também possas ser de outra forma que não aquela que aquelas pessoas querem, é completamente errado! E desprovido de lógica. A ideia é estarmos aqui umas pelas outras e não umas contra as outras.


Quanto à Helena... http://www.helenamagalhaes.com/ (só para dares uma olhadela).

PS - Não escrevi que o nível de parvoíce da mulher contra mulher ou homem esteja directamente relacionado com feminismo, mas se calhar, uma mulher que esteja permanentemente a debater-se contra os homens, só o fará por uma questão de Feminismo - embora duma forma errada (a meu ver). Lá está, o meu texto é apenas a minha opinião.

Goldfish said...

:) É difícil, mas eu sabia que tinha ficado qualquer coisa por dizer no teu texto! Gosto muito de te ler, apesar de por vezes não partilhar certas opiniões, mas costumas ser lógica.

P.S. - lá irei à Helena, mas só porque disseste com jeitinho! :D