A forma como vemos a mortalidade e indiferença humanas - Cláudia Paiva Silva

Monday, October 24, 2011

A forma como vemos a mortalidade e indiferença humanas

Kadhafi foi morto... o déspota, assassino, tirano, ditador líbio foi morto pelos rebeldes que dizem lutar pela libertação do seu país. As imagens da sua morte, do seu próprio assassinato correram todas e quaisquer estações de televisão mundiais, às horas de almoço, lanche, jantar, sem qualquer tipo de decência, de moralidade. "Olhem, foi morto! Aqui estão as provas em imagens que podem ser "chocantes" para algumas pessoas." Sim, para "algumas pessoas", porque honestamente não creio de forma alguma que, dia após dia, de imagens idênticas, sanguinárias, haja quem ainda sinta o mínimo de revolta ou de enjoo ao ver seja o que for na televisão. Talvez por isso séries como Dexter tenham tantos apoiantes, porque a sensibilidade pela vida humana é, de certa forma, nos dias que correm, perecível. Por outro lado, temos o país mais insensível à face terrestre, a China, pois claro! Eu sei que se o SIS andar atrás de mim, há já muito que não posso pisar território da República Popular da China, uma vez que eu e os chineses, definitivamente não nos damos. Acho que, para além das imagens do outro a ser morto ao murro e ao pontapé por facções políticas que não me convencem de todo serem a melhor solução para a Democracia de um país do próximo oriente (que como todos os outros não irá chegar a lado algum), deveriam também passar, até à exaustão o atropelamento duplo da menina chinesa perante o olhar passivo dos transeuntes. Isso também seria de louvar! Para tudo na vida tem de haver Justiça. Para a Morte tem de haver o mínimo de dignidade, independentemente da pessoa que seja. Não me parece que nos dias que correm haja qualquer uma dessas palavras. A vida humana não passa de um número, de uma estatística em censos. Mais um, menos um no meio de 9 biliões (somos demasiados para um planeta em sofrimento) é apenas papelada "burocracia" como se diz algures no filme A Lista de Schindler. Somos apenas e só carneiros para o matadouro, sejamos Kadhafis ou meninas chinesas anónimas. A Humanidade perdeu a sua humanidade. E isso, a mim, que sempre me preocupei com os outros, é grave e assusta-me.

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