O estranho caso de choro compulsivo no cinema - Cláudia Paiva Silva

Saturday, February 28, 2009

O estranho caso de choro compulsivo no cinema

Raras foram as vezes que tal me aconteceu. Talvez em City of Angels, ou em Forrest Gump. Mas de resto, apenas breves ameaças, nada como o que aconteceu hoje (e nas alturas mencionadas anteriormente). Talvez as outras fossem por falta de maturidade mental para lidar com algumas situações, afinal seria uns bons anos mais nova. Mas ver agora o Estranho Caso de Benjamim Button, levou-me à beira do colapso nervoso. Não digo isto em tom de brincadeira ou em sentido perjurativo, apenas porque é uma lindíssima história não só de amor, mas acima de tudo amor à Vida. O que faríamos se nascessemos velhos e envelhecessemos para novos, até que a nossa morte acabasse por ser um fechar de olhos como se estivéssemos a prestes a adormecer, mas para sempre? Será que não seria mais fácil? Por aquilo que vi esta tarde (e que em nada se assemelha ao conto de F.Scott Fitzegerald), só pioraria as coisas. Termos a noção da realidade backwards deve ser uma sensação horrível. Caminharmos para o auge da juventude quando todos os que amamos caminham para o mesmo desfecho dói, magoa, marca, desilude. Benjamim foi abandonado pelo pai, devido à repulsa, foi amado pela mãe e pai adoptivos até estes terem falecido e, encontrou na melhor amiga de infância, Daisy, a mulher da sua vida. Aquela que, já nos seus 70, 80 anos?, o segurava ao colo, numa cadeira de baloiço, quando ele deu o ultimo suspiro, olhando para ela. De uma forma geral, leva-me a crer que a vida não é o que escolhemos que seja, mas aquilo que muitas vezes ela escolhe para nós. E em relação à noção de tempos perfeitos, pessoas perfeitas, o chamado timing, nem podemos falar. É tudo tão delineado pelo acaso ou por Deus, que podemos estar a respirar numa altura e na outra o coração deixar de bater, porque vimos aquela pessoa que nos marca a entrar na mesma sala em que estamos, ou porque está na hora de partirmos para outros rumos (como os colibris). Daisy morre a contar à filha, Catherine, que o pai dela não é aquele que ela conhecia, mas sim um outro, no dia em que Nova Orleães é atingida pelo Furacão Katrina. De uma coisa ficámos certos: o furacão levou com ele os arrependimentos, as mágoas e as dores, os colibris, os relógios que andam para trás, cujos ponteiros funcionam no sentido inverso, mas deve ter assegurado algures o reencontro entre duas pessoas que, a meio das suas vidas se cruzaram e amaram como deveria ser. Porque o amor é isso mesmo, é esperar pela altura certa. Boa Noite Benjamim! Boa Noite Daisy!

2 comments:

zequinhas said...

Não me envergonho de dizer que a minha reacção ao ver o filme foi em tudo identica à tua...

bj
*

The Star said...

Eu digo mais do que tu, ultimanente pareço uma Maria Madalena no cinema. Tenho visto vários filmes que me têm levado às lágrimas. Este foi um deles. A história é muito tocante. É um dos melhores filmes que já vi.